Desapareceu também o fóssil carinhosamente chamado de Luzia, de uma pessoa que andou por aqui há pelo menos doze mil anos e ajudou a reescrever a história da ocupação das Américas pelos Sapiens. Foram queimadas a primeira edição de Os Lusíadas, de 1572, e a gramática do Padre Anchieta, de 1595. Com exceção do meteorito Bendengó, achado na Bahia em 1892, queimou tudo no prédio onde foi assinada a Independência do Brasil.
O incêndio queimou parte importante de nossa história, de nossa identidade nacional. A causa ainda não foi apurada, mas as evidências não deixam dúvida sobre o descaso recente sobre nosso patrimônio, sobre os bens que nos identificam como povo. Não havia dinheiro para cuidar do museu: os orçamentos federais foram congelados por vinte anos com a emenda constitucional 95 - a emenda do teto dos gastos públicos, de 2016 – apesar de todos os alertas emitidos sobre o prejuízo que a medida provocaria na nossa cultura, educação, saúde, segurança, infraestrutura. No futuro do Brasil.
Pouco ajudou, nesse cenário, a desorganização completa do estado do Rio de Janeiro, que abriga o que resta do Museu. Não havia água para apagar o fogo, na hora dramática.
Ao desânimo, somamos nossa indignação. Mas lembrando o poeta que resumiu em frase que a coragem é nada menos que a dignidade sob pressão, recomendamos, urgimos por ainda mais coragem. Por ainda mais resistência aos que tentam colocar o Brasil de joelhos, que desprezam seu povo em troca apenas da conveniência do lucro imediato.
Não iremos esquecer. Haverá futuro. Havemos de prevalecer.