Que, nesses tempos sombrios que estamos vivendo, exista gente que negue a ciência, que detratem cientistas, que, possuídas por um espírito autoritário, insano, falem e façam coisas terríveis de forma impune, pessoas que agem de maneira natural, como que numa epidemia de ignorância e truculência, tudo isso existir é trágico e é a marca de uma época terrível.
Como a ignorância chafurda no pântano da insensatez, esse terreno fértil para a imbecilidade a cada dia tem novos frutos.
Primeiro, dentro do próprio governo Bolsonaro temos o exemplo do secretário da Cultura Roberto Alvin, ainda em 2020, lança um projeto do governo federal tendo como pano de fundo a fala de Joseph Goebbels, o segundo nome mais importante do nazismo alemão, responsável direto pelo holocausto judeu e a segunda guerra mundial. O governo, de forma contrariada, o demitiu pressionado pela sociedade organizada.
Depois, mais um exemplo: numa reunião com os seus ministros, o presidente presenciou uma fala de Abraham Weintraub defendendo o fechamento das instituições que fazem parte do escopo da nossa democracia, no caso o Supremo Tribunal Federal. Nada fez para coibir essa posição do ministro da educação. Mais tarde, também de maneira constrangida o ministro foi demitido.
Este governo tem sido particularmente exemplar na estratégia de minar a democracia e sendo um modelo para aqueles que o seguem. Muitos outros episódios há nesse sentido.
Agora, nesse pântano citado acima, um youtuber de nome Bruno Aiub, conhecido como "Monark", num debate com dois parlamentares, defende a legalização do partido nazista aqui no Brasil. Nesse debate estavam presentes a Deputada Tábata Amaral que repudiou de maneira veemente e pronta essa ideia. No entanto o seu colega de bancada, o deputado Kim Katagari, deputado do DEM ligado ao Movimento Brasil Livre (MBL) não agiu da mesma maneira e acolheu concordando com a ideia de Monark.
Após o negacionismo acerca da eficácia da vacina que está combatendo a epidemia de Covid, o pântano agora nega a história.
Afirma que, pelo princípio da liberdade de expressão, as ideias criadas por Adolf Hitler, colocadas no livro "A minha luta", devam ser amplamente difundidas na sociedade e mesmo publicizadas em campanhas eleitorais, já que um partido legalmente existente teria acesso ao dinheiro público para financiamento da campanha eleitoral, através do fundo partidário e amplo espaço nas mídias tradicionais para fazer o seu proselitismo.
Nesse livro Hitler deixa bem claro as suas intenções, e elas não são nem um pouco democráticas: O Estado autoritário, onde o individuo é apenas um detalhe. O extermínio de "povos inimigos". A busca da pureza étnica, tendo os arianos como exemplo de raça superiora. A política nacional voltada para a guerra. O racismo legalizado. A educação como instrumento de dominação ideológica. Essas e outras ideias do mesmo quilate fazem parte do programa do partido Nazista na Alemanha nas décadas de 1920, 1930 e 1940.
Não é possível defender um programa de um partido que, na sua essência, na sua estrutura, defende o fim da democracia.
No pretexto de se defender a liberdade de expressão essa gente quer criar condições para que essa liberdade de expressão seja colocada em risco.
Por tudo isso é urgente que as autoridades competentes, que compõem o Estado brasileiro, tomem as devidas providências legais para reprimir tais ideias criminosas e defendam um Estado democrático e de direitos, como deve ser.
Ailton Fernandes, professor, é diretor de Comunicação da Fepesp e procurador do Sinpro SP