O que mais incomoda os professores no Brasil: os baixos salários ou o desrespeito dos alunos? Quase empata, mas a desvalorização, a perda de autoridade, a violência e a falta de respeito em sala de aula são considerados problemas mais graves do que o da remuneração.
Esses são os aspectos que mais causam insatisfação dentre os docentes no país, sendo citados por 30% deles, enquanto os salários –a renda média é de R$ 4.820– ocupam o segundo lugar, com 26%. Na sequência estão a falta de estrutura das escolas (22%), o desinteresse dos alunos e das famílias pelo aprendizado (14%) e a carga horária muito pesada (7%).
Os dados estão em uma nova pesquisa do Instituto Península, que desenvolve projetos para a melhoria da educação no País. Com o nome de “Retratos da carreira de docente”, foi realizada com uma mostra de 1.812 professores de escolas públicas e privadas. Além das causas de insatisfação, revela que o relacionamento com os pais é visto como pior do que com os alunos, com a direção da escola e com outros docentes.
É assustador que 65% concordem que a formação dos professores no Brasil não dá conta da complexidade da carreira dentro e fora das aulas.
Há mais e mais números na cesta das más notícias, como, aliás, é de costume em levantamentos na educação brasileira. Mas vamos olhar também para os resultados que abrem a porta da esperança.
Não há dúvida, os professores gostam da profissão: 77% estão satisfeitos com a escolha e 57% não pretendem mudar de carreira. E eles procuram se aprimorar, apesar das dificuldades: 56% têm pós-graduação e 50% estão atualmente fazendo cursos de aperfeiçoamento. Nada mais nada menos do que 74% apontam que o aspecto mais positivo da profissão é a possibilidade de construir uma sociedade melhor e acreditam ter energia para correr atrás da missão. O problema é que lhes faltam ferramentas, especialmente na rede pública, o que sabemos sem precisar de pesquisa.
A parceria com universidades se coloca como um caminho. Nesta terça-feira (22), a Assembleia Legislativa de São Paulo homenageou projetos que incentivam boas práticas e paz nas escolas, dentre eles o do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP. Iniciado em 2017, o Podhe (Projeto Observatório de Direitos Humanos em Escolas) trabalha com alunos do 6º ano do fundamental e do 1º do médio, além da capacitação dos professores, com atividades para conscientização sobre as questões que envolvem a convivência no ambiente escolar e na sociedade.
Na segunda-feira, no Palácio dos Bandeirantes, foi apresentado o Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (Gepem) da Unesp. Sua base é a formação de docentes para a construção de espaços de diálogos nas escolas, como assembleias e outras ações de protagonismo estudantil. O projeto ganhou suporte de outras universidades, como USP, Unicamp e Unifesp, desde o massacre, em março, na escola estadual Raul Brasil, em Suzano, quando dois ex-alunos mataram sete pessoas e feriram 11.
Além do alento de saber que a tragédia mobilizou iniciativas assim, encerremos com um outro dado da cesta de boas notícias da pesquisa com os professores: Eles dizem ter na vida sentimentos positivos, entre eles, solidariedade e alegria, com o dobro de frequência do que negativos, como mau humor, depressão e desespero. Imagina se ganhassem bem.
Laura Mattos, jornalista e mestre pela USP, é autora de ‘Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura’ (publicado originalmente em Folha de S. Paulo, 24/10/19).