Fepesp - Federação dos Professores do Estado de São Paulo

Por agencia sindical em 26 de agosto de 2025

O Jaguar sempre teve lado, afirma Maringoni

Morreu domingo, aos 93 anos, Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, Jaguar. Artista múltiplo, capaz como ninguém de captar em seus cartuns o cinismo da classe dominante e também a alma espontânea e meio destrambelhada da baixa classe média e do nosso povão.

Sobre esse carioca brasileiríssimo, brizolista, conversamos com Gilberto Maringoni, ele também cartunista, desenhista, escritor e, mais recentemente, professor universitário.

Jaguar foi um dos fundadores do Pasquim, jornal que esculachava a ditadura e se destacava pela verdadeira “seleção de 70” nos quadrinhos e cartuns, com Jaguar, Ziraldo, Henfil, Fortuna, Claudius e tantos outros.
Maringoni observa: “Ziraldo e Jaguar eram estilos opostos, mas se completavam no Pasquim. Ziraldo com seu traço impecável e Jaguar parecendo um desenhista que não sabia desenhar”. Mas Jaguar era preciosista e trabalhava detalhando o desenho até finalizar seu cartum.

Para Maringoni, que hoje faz trabalhos freelancer para o Sinpro-SP, Ziraldo, Jaguar e todo o time do Pasquim desenhavam sobre tudo, “mas o centro de seus trabalhos era o combate à ditadura e ao ridículo de seus personagens, fardados ou não.”

Um dos alvos era Roberto Campos, uma espécie de office-boy de luxo dos Estados Unidos. Gilberto Maringoni lembra e conta: “Quando Roberto Campos foi tomar posse na Academia Brasileira de Letras, Jaguar improvisou um fardão e encheu um carro de ovos pra jogar no Bob Fields. Mas a Polícia impediu”.

Jaguar não gostava de desenhar histórias em quadrinhos, não tinha saco. Ele dizia: “Se você bolar um cartum, ele em si próprio se encerra, pronto e acabou! Os quadrinhos pedem aquela repetição, repetição, repetição a cada quadro!”

conheceu e entrevistou Jaguar. “Passei um dia com ele, a fim de fazer entrevista pra Revista Atenção, editada pelo Breno Altman. Desde cedo, Jaguar começou a beber, acho que steinhaeger; no almoço, foi de chopp; no final da tarde, uísque”. Aliás, sua autobiografia se chama “Confesso que Bebi”, paródia do “Confesso que Vivi”, do poeta chileno e Prêmio Nobel, Pablo Neruda.

Aos 93 anos, e produzindo sempre, Jaguar deixa uma biografia repleta de charges, cartuns, livros, grandes histórias e também grandes bebedeiras. Para Maringoni, “ele era um dos últimos cariocas cordiais, porém não acho que seja datado”. E completa: “Machado de Assis escreveu no século XIX, ligado àquelas circunstâncias. Mas se tornou perene. Penso que assim também será com Jaguar”.

E finaliza: “Jaguar parecia anárquico. Mas tinha lado. O nosso lado”.

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