Mais de 30 mil professores entraram em greve na cidade de Los Angeles, Estados Unidos, desde o dia 14 de janeiro. Devido à paralisação, cerca de 1.100 escolas públicas tiveram suas aulas canceladas.
A greve ocorre depois que as negociações entre o sindicato e os responsáveis do segundo maior distrito escolar do país (LAUSD) fracassaram. Embora as tratativas diretas tenham ocorrido recentemente e em regime de sigilo, o debate entre o Distrito Escolar Unificado de Los Angeles e o professorado norte-americano estendeu-se desde agosto do ano passado. Temendo que o movimento docente desencadeie outras insurgências trabalhistas, o distrito escolar enxerga com ressalvas cumprir as reivindicações, como atender o aumento de 6,5% no salário.
Em coletiva à imprensa local, o líder do sindicato, Alex Caputo-Pearl, afirmou que a categoria está em luta por valorização:
“Estamos aqui neste dia chuvoso, no país mais rico do mundo, no estado mais rico do país, em um estado que não pode ser mais azul (símbolo do Partido Democrata, liberal), em uma cidade cheia de milionários, onde os professores têm que entrar em greve para obter o básico para os nossos estudantes”, disse.
E emendou: “Precisamos de mais ajuda nas salas de aula, precisamos de mais ajuda nos escritórios, precisamos de enfermeiras pagas em cada escola. Não tivemos escolha, não queria estar aqui, preferiria ficar na minha sala, mas a situação chegou até aqui e continuaremos aqui fora enquanto for necessário”.
O LAUSD já fora criticado anteriormente por suas escolas lotadas, turmas grandes, altas taxas de evasão e expulsão, desempenho acadêmico ruim, falta de manutenção, etc. É justamente neste sentido que os professores exigem melhorias na condição de vida dos estudantes, maioria formada por filhos de trabalhadores imigrantes e pobres; opõem-se à precarização do trabalho docente, privatização da educação; e agora incorporam em seus discursos pautas sobre os direitos de minorias, como o racismo. Também, lutam por salas sem superlotação e contratação de trabalhadores de apoio escolar, como enfermeiros, bibliotecários e psicopedagogos.
Enquanto o distrito escolar argumenta que não há orçamento público disponível para concretizar as exigências da classe docente, é fato que se trata de um dos maiores bolsões educacionais e demográficos no país, com quase oito bilhões de dólares disponibilizados entre 2016-2017. Trata-se de uma economia rica, conhecida por seus milionários, pelo custo de vida exagerado, sendo que o distrito escolar é um dos maiores empregadores no Condado de Los Angeles e atende quase um milhão de alunos.
A última greve docente em Los Angeles havia ocorrido há quase trinta anos. A luta dos professores norte-americanos parece representar o papel docente como primeira frente de resistência popular e massiva à política de Trump. No Brasil, há um cenário próximo. Diante dos ataques do governo Bolsonaro, os professores podem ser a linha de frente na resistência contra os cortes nos direitos trabalhistas, aniquilação da representatividade das minorias, e ideologização/evangelização da educação no país.