Natural que um governo eleito trabalhe para cumprir promessas feitas em campanha, tente executar sua agenda. Não significa, porém, na democracia representativa, que o voto popular tudo permita. Há ritos e instituições que filtram excessos e até podem ajudar a aperfeiçoar ideias. Ou simplesmente barrá-las, por impróprias.
Se Lula e seguidores não conseguiram executar tudo o que queriam inspirados no nacional-populismo, Bolsonaro e eleitores não podem imaginar que toda a agenda mais à direita que defendem poderá ser seguida. É assim que funciona a democracia representativa, e ainda bem. Se não, estaríamos em um regime autoritário, desses que existem pelo mundo, de direita e esquerda.
Na lista de propostas a serem barradas, destaca-se a ideia da “Escola Sem Partido”. Ela deriva de compreensíveis preocupações com o risco de doutrinação em vez de ensino nas salas de aula. Compreende-se, mas a forma com que bolsonaristas e aliados procuram resolver o problema é tosca, equivocada, para dizer o mínimo. Como seria se a mesma iniciativa viesse da esquerda.
Há um movimento antigo em torno do tema, e um projeto de lei substitutivo, de Flavinho (PSC-SP), para impedir “doutrinação política” nas escolas, encontra-se em comissão especial da Câmara, onde se travam duros debates. Se aprovado, deverá ir para o Senado. Na terça-feira, a sessão foi suspensa, para os trabalhos serem retomados nesta semana.
Devem-se procurar referenciais que não podem ser negociados. Um dos princípios inarredáveis: o ensino é um espaço amplo e aberto, para a formação dos alunos. O que significa informar os jovens sobre ideologias, em aulas e conversas francas.