Fepesp - Federação dos Professores do Estado de São Paulo

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Por agencia sindical em 19 de junho de 2024

Chico Buarque, 80 anos de arte e genialidade

Chico Buarque e Fernando Henrique Cardoso no comício das ‘Diretas Já’ na Praça da Sé em 1984

Nos anos 60, Nelson Rodrigues escreveu: “Chico Buarque é a única unanimidade nacional”. Passadas décadas, o exímio compositor popular lidera as preferências de quase todos nós. Chico Buarque de Hollanda completa nesta quarta 80 anos, em plena forma como compositor da MPB e também escritor de romances e memórias.

 

Artista eclético, além de compositor popular, Chico escreveu óperas, paródias, peças de teatro, romances e memórias. Seu repertório, centrado no samba, inclui também choro, maxixe, valsa e outros gêneros.

 

Autor de letras primorosas, capaz de rimas inusitadas, dono de um lirismo peculiar, Chico também de destaca pelo fino trato à Língua Portuguesa - “Construção” poderia figurar nas obras completas de qualquer grande poeta.

 

Durante anos foi espinho na goela da ditadura. Por isso, acabou exilando-se na Itália, devido a perseguições e censura. De tanto ver suas letras sadicamente mutiladas pelos censores, o compositor aplicou um golpe genial no regime ao adotar o codinome Julinho da Adelaide, com o qual assinou músicas que alfinetavam o regime, a exemplo de “Chama o ladrão”.

 

Traço comum e permanente na vida do grande brasileiro é sua firme defesa da democracia e apoio aos excluídos do sistema. O professor Celso Napolitano, presidente da Fepesp, observa: “Tudo em Chico Buarque nos orgulha. Sua música, suas letras, suas peças, seus livros e a certeza de que ele sempre esteve do nosso lado, do povo brasileiro e dos trabalhadores”.

 

Homem de esquerda, já em maio de 1968, Chico Buarque participava da “Passeata dos Cem Mil”, no Rio de Janeiro, contra o regime de força implantado pela ditadura civil-militar. Nos anos seguintes, esteve em todas as lutas democráticas e apoiou a classe trabalhadora, subindo em palanques sindicais. Na canção “Linha de Montagem”, de 1980, ele diz: “As cabeças levantadas/máquinas paradas/Dia de pescar”. E mais: “Gente que conhece a prensa/A brasa da fornalha/ O guincho do esmeril”.

 

Sua primeira obra explicitamente pró-trabalhador é de 1965, no samba “Pedro Pedreiro”, que diz: “Esperando, esperando, esperando/Esperando o sol/ Esperando o trem/Esperando o aumento/ Desde o ano passado/ Para o mês que vem”.

 

Construção - Obra máxima, a música é construída num clima de tensão repetida e com os versos sempre terminados em proparoxítonas, como “última/única/máximo/bêbado/pródigo”. Inspirada no “O operário em construção”, onde diz o poeta Vinicius de Moraes: “Era ele que erguia casas/ Onde antes só havia chão.”

 

Mulheres - A obra de Chico Buarque de Hollanda sempre teve um olhar carinhoso em relação às mulheres e a minorais. “Geni e o Zepelin”, por exemplo, retrata uma prostituta que ajuda burgueses fugitivos da guerra para depois ser por eles desprezada. Diz o refrão: “Joga pedra na Geni/Ela é feita pra apanhar/Ela é boa de cuspir”.

 

Cravos - Ao ensejo do recente cinquentenário da Revolução que derrubou o regime salazarista em Portugal, vale lembrar “Tanto mar”, que homenageia aquele belo momento da história portuguesa. Versos de Chico: “Foi bonita a festa, pá/Fiquei contente/Inda guardo renitente/Um velho cravo para mim”.

 

Vida longa, produtiva e saudável a esse grande brasileiro, compositor genial e ardoroso torcedor do Fluminense.

 

MAIS - Clique aqui e assista Chico em histórico Vox Populi, na TV Cultura.

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