Isabela Palhares e Renata Cafardo, O Estado de S.Paulo
03 de dezembro de 2019
Três em cada dez alunos de 15 anos no Brasil afirmam sofrer bullying [ou assédio escolar] "algumas vezes ao mês", segundo dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), mais importante avaliação de educação básica do mundo. Os jovens brasileiros são alvos desse tipo de violência com mais frequência e em mais formas do que a média dos países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Desde 2015, além da aplicação de provas de Leitura, Matemática e Ciência, os organizadores do Pisa perguntam aos alunos sobre experiências de bullying (o que pode envolver intimidações físicas ou verbais) no ambiente escolar. Entre os países da organização, 22,3% relatam sofrer bullying com frequência e foi constatado que diferenças culturais e normas sociais influenciam os tipos de violência sofrido pelos estudantes.
A proporção de estudantes brasileiros que sofrem as diferentes formas de bullying é maior do que a média. No Brasil, 16% relatam ter sido alvo de agressões verbais, 10% dizem ter sido ameaçados, 12% afirmam ter seus pertences roubados ou destruídos e 9% agredidos - enquanto, na média da organização, foram 13%, 5,5%, 6% e 7%, respectivamente.
"Esse comportamento violento pode ter consequências físicas e emocionais a longo prazo nos estudante", diz o relatório, que destaca a situação como preocupante, uma vez que pesquisas mostram haver maior incidência de abandono escolar entre quem sofre e quem comete bullying.
Os meninos tendem a estar mais envolvidos em situações de violência escolar, tanto como vítimas como agressores. Nos casos de bullying, se envolvem mais em violências físicas. Já as garotas, em agressões sociais, como exclusão e violência verbal.
Apesar da alta proporção de brasileiros vítimas de violência escolar, o relatório destaca como positivo o fato de os estudantes terem uma percepção sobre a gravidade desse tipo de episódio - 85% disse concordar que devem ajudar quem não consegue se defender sozinho.
"Professores e diretores não devem apenas ser capazes de reconhecer quando o bullying acontece, mas também devem criar uma atmosfera menos propensa para que ele ocorra. Pesquisas sugerem que ambientes escolares apoiadores e solidários têm menos ocorrência de violência entre os estudantes", diz o relatório.
Mesmo com uma boa percepção sobre a violência, a maioria dos estudantes brasileiros relata ter experiências negativas na escola - 52% relataram que seus colegas não cooperam uns com os outros e 57% dizem se sentir em competição com os outros. Além disso, 23% dizem se sentir solitários na escola. "Em escolas onde os estudantes percebem que há maior senso de justiça e gentileza, em que se sentem pertencentes e têm professores menos punitivos, os jovens se sentem menos inclinados a ter um comportamento arriscado ou violento", diz o estudo.