Os trabalhadores brasileiros estão sob forte ataque desde o desmanche trabalhista de 2017.
Não por coincidência, mas como projeto político, esse desmonte começou a ocorrer na lembrança do centésimo aniversário das greves gerais ocorridas em São Paulo, que tiveram como grande resultado o surgimento dos sindicatos de classe e, sobretudo, de uma legislação que protegia o trabalhador brasileiro da excessiva exploração que vivia no início do século XX.
Esse projeto de organização veio na esteira da organização dos trabalhadores na Europa e nos EUA que vivenciaram na Revolução Industrial nascente a superexploração do trabalho, com salários baixíssimos, ambientes insalubres no trabalho e na moradia, de trabalho infantil, das longas jornadas de trabalho e a completa ausência de qualquer direito social.
Todos os direitos obtidos pelos trabalhadores não foram meros presentes do Estado ou das classes empresariais. Foram direitos conquistados a duras penas, com greves, combates, revoluções e mortes e perseguições aos seus líderes.
"Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo."
Provérbio Africano
Ainda no final do século XVIII, na Inglaterra, começaram a aparecer organizações de trabalhadores que, ao constituir um caixa comum, amparavam as famílias e os trabalhadores necessitados, seja para a alimentação, ou seja mesmo para realizar um sepultamento de algum camarada.
Essas organizações logo cresceram e se transformaram em sindicatos que organizavam a luta contra as classes dominantes e contra o Estado em busca de melhores condições de vida e de trabalho.
Buscava-se a dignidade do indivíduo enquanto trabalhador mas, sobretudo, enquanto cidadão.
Com as sucessivas conquistas sociais havia um jogo de ganha-ganha: o trabalhador produzia riqueza para a sociedade, mas recebia em troca uma seguridade social que lhe permitia produzir bem e ser respeitado enquanto indivíduo.
Nada disso existiria sem a organização dos trabalhadores em entidades fortes, atuantes e incisivas nessa ação: os sindicatos.
No entanto, toda essa conquista está em perigo. Ao atacar a representação sindical, como o governo Temer fez em 2017 e agora Bolsonaro faz em 2019, todo esse arcabouço de defesa social estará ruindo trazendo a sociedade para níveis de incivilidade próximos ao início da Revolução Industrial.
É imperativo que a sociedade, como um todo, fique atenta a esse desmanche.
No entanto é função das entidades sindicais, com todo o arcabouço político, econômico e jurídico que possui, fazer essa denúncia e essa luta.
É dela a responsabilidade de dizer aos trabalhadores que a contribuição que ele faz, seja de qual forma for, é fundamental para aparelhar as entidades no sentido de preservar uma estrutura social que proteja, não apenas o trabalhador, mas a toda a sua família.
É mais do que necessário que o sindicato, através de seus agentes, vá ao local de trabalho se apresentar aos trabalhadores, mostrar que eles formam as entidades, organizar a resistência contra esses ataques e utilizar a sua estrutura para mostrar a todos a importância das entidades sindicais.
O que se espera dos sindicatos nesse momento de ataque é ação, uma ação calcada na luta pela manutenção dos direitos conquistados por tantos que tombaram nessa luta de classe que já avança para o quarto século.
Voltando à epígrafe do texto: se quisermos ir longe deveremos fazer essa caminhada juntos, se quisermos soluções rápidas e efêmeras que cada um vá por um caminho sozinho. Com certeza essa última sentença não nos levará a nada.