Fepesp - Federação dos Professores do Estado de São Paulo

Por Beth Gaspar em 15 de abril de 2019

Os sindicatos e a dignidade do trabalhador brasileiro

por Ailton Fernandes *

 

Os trabalhadores brasileiros estão sob forte ataque desde o desmanche trabalhista de 2017.

Não por coincidência, mas como projeto político, esse desmonte começou a ocorrer na lembrança do centésimo aniversário das greves gerais ocorridas em São Paulo, que tiveram como grande resultado o surgimento dos sindicatos de classe e, sobretudo, de uma legislação que protegia o trabalhador brasileiro da excessiva exploração que vivia no início do século XX.

Infográfico: dez direitos dos trabalhadores garantidos pelas lutas dos sindicatos (criação: coletivo Abridor de Latas, de assessoramento sindical)

Esse projeto de organização veio na esteira da organização dos trabalhadores na Europa e nos EUA que vivenciaram na Revolução Industrial nascente a superexploração do trabalho, com salários baixíssimos, ambientes insalubres no trabalho e na moradia, de trabalho infantil, das longas jornadas de trabalho e a completa ausência de qualquer direito social.

Todos os direitos obtidos pelos trabalhadores não foram meros presentes do Estado ou das classes empresariais. Foram direitos conquistados a duras penas, com greves, combates, revoluções e mortes e perseguições aos seus líderes.

 

"Se quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá em grupo."

Provérbio Africano

 

Ainda no final do século XVIII, na Inglaterra, começaram a aparecer organizações de trabalhadores que, ao constituir um caixa comum, amparavam as famílias e os trabalhadores necessitados, seja para a alimentação, ou seja mesmo para realizar um sepultamento de algum camarada.

Essas organizações logo cresceram e se transformaram em sindicatos que organizavam a luta contra as classes dominantes e contra o Estado em busca de melhores condições de vida e de trabalho.

Buscava-se a dignidade do indivíduo enquanto trabalhador mas, sobretudo, enquanto cidadão.

Com as sucessivas conquistas sociais havia um jogo de ganha-ganha: o trabalhador produzia riqueza para a sociedade, mas recebia em troca uma seguridade social que lhe permitia produzir bem e ser respeitado enquanto indivíduo.

Nada disso existiria sem a organização dos trabalhadores em entidades fortes, atuantes e incisivas nessa ação: os sindicatos.

No entanto, toda essa conquista está em perigo. Ao atacar a representação sindical, como o governo Temer fez em 2017 e agora Bolsonaro faz em 2019, todo esse arcabouço de defesa social estará ruindo trazendo a sociedade para níveis de incivilidade próximos ao início da Revolução Industrial.

É imperativo que a sociedade, como um todo, fique atenta a esse desmanche.

No entanto é função das entidades sindicais, com todo o arcabouço político, econômico e jurídico que possui, fazer essa denúncia e essa luta.

É dela a responsabilidade de dizer aos trabalhadores que a contribuição que ele faz, seja de qual forma for, é fundamental para aparelhar as entidades no sentido de preservar uma estrutura social que proteja, não apenas o trabalhador, mas a toda a sua família.

É mais do que necessário que o sindicato, através de seus agentes, vá ao local de trabalho se apresentar aos trabalhadores, mostrar que eles formam as entidades, organizar a resistência contra esses ataques e utilizar a sua estrutura para mostrar a todos a importância das entidades sindicais.

O que se espera dos sindicatos nesse momento de ataque é ação, uma ação calcada na luta pela manutenção dos direitos conquistados por tantos que tombaram nessa luta de classe que já avança para o quarto século.

Voltando à epígrafe do texto: se quisermos ir longe deveremos fazer essa caminhada juntos, se quisermos soluções rápidas e efêmeras que cada um vá por um caminho sozinho. Com certeza essa última sentença não nos levará a nada.

 

(*) Ailton Fernandes, diretor de Imprensa e Comunicação da Fepesp, é também diretor do Sinpro SP

 

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