Federação dos Professores do Estado de São Paulo, 29 de maro de 2024

7 de fevereiro de 2020

O atlas que mostra os alfabetos ameaçados de extinção

Quando uma cultura deixa de usar seu sistema de escrita, parte de sua história e identidade – registrada em textos sagrados, poemas e documentos – corre o risco de se perder.

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Do jornal NEXO

Há mais de 6.000 idiomas falados no mundo, muitos deles também em vias de serem extintos. Nem toda língua, porém, tem um sistema de escrita próprio: estes estariam na casa de uma centena e grande parte vem sendo suprimida pelos sistemas de escrita dominantes no mundo, como o alfabeto latino e o árabe.

 

Veja aqui: Atlas dos Alfabetos em Vias de Extinção

Preservar esses alfabetos se torna ainda mais difícil em um contexto global conectado, intensamente dominado por telas que impõem, via de regra, a língua inglesa e o alfabeto latino.

Entretanto, culturas minoritárias têm se organizado para manter vivos seus alfabetos, transmitindo-os às novas gerações e criando ferramentas digitais para torná-los acessíveis.

O Atlas dos alfabetos ameaçados é uma dessas iniciativas. Parte do Endangered Alphabets Project, criado pelo americano Tim Brookes, o site lista quase 90 sistemas que podem desaparecer em breve. Além disso, localiza esses sistemas de escrita geograficamente e traz informações sobre cada um deles.

 

3 exemplos


ADLAM

Foi criado nos anos 1980 pelos irmãos Abdoulaye e Ibrahima Barry como representação escrita para a língua fulani, falada na República da Guiné, país da África Ocidental.

 

COPTA

A escrita copta é milenar e já foi, assim como a língua, oficial no Egito (por volta do ano 600 d.C.). Seu uso começou a entrar em declínio um pouco mais tarde, a partir da conquista muçulmana do território egípcio. Os coptas se tornaram uma minoria religiosa no país africano e, embora tenham continuado a usar sua língua e escrita nas liturgias, tiveram que se adequar ao domínio da língua e escrita árabes.

 

MARMA

Usada pela comunidade étnica de mesmo nome que vive nas Colinas de Chittagong, no sudeste de Bangladesh, e também em outros territórios, como na Índia e Myanmar. Com a independência de Bangladesh em 1971, o bengali se tornou a língua oficial do país, ensinada nas escolas. Isso acabou excluindo muitos marmas do ensino formal, já que o bengali não é sequer a segunda língua para vários deles, e fez com que boa parte da comunidade hoje não saiba ler e escrever em marma.

 

O que entra na definição de ‘ameaçado’ –  Segundo o site, não existem estatísticas sobre os sistemas de escrita atualmente em uso no mundo. Por isso, a definição de “risco de extinção” usada pelo atlas não é exata, mas se baseia em algumas diretrizes.

A principal é que são incluídas no mapa escritas que não têm status oficial em seu país, estado ou província, e tampouco são ensinadas em escolas públicas.

O objetivo é reunir sistemas de escrita de povos indígenas e culturas minoritárias em geral que correm risco de “perder seu senso de história e identidade” e que estejam tentando proteger, preservar ou reviver esses sistemas “como forma de se conectar com seu passado e sua dignidade”, segundo afirma o site do Atlas.

O atlas não abrange somente escritas antigas que estejam desaparecendo, mas aquelas cujo surgimento é relativamente recente (datando de algumas décadas ou algumas centenas de anos). São sistemas criados com a finalidade de representar de maneira adequada a variação de sons e expressões de uma língua falada. Estes também são considerados sob ameaça “da mesma maneira que todo recém-nascido está ameaçado”. Em alguns casos, esses novos alfabetos foram tão bem-sucedidos e largamente aceitos que se tornaram uma ameaça à autoridade constituída, que por isso buscou eliminá-los.

 

Como um alfabeto desaparece – Muitos dos sistemas de escrita hoje ameaçados já foram centrais em culturas estabelecidas, mas entraram em declínio com a perda de status ou de território de seus respectivos grupos. Normalmente isso decorre de um processo de dominação, em que o grupo que perde sua língua ou seu alfabeto está sendo coagido ou perseguido por um grupo dominante.

Com frequência, governos também contribuem para esse processo de apagamento ao determinar o ensino de uma língua oficial em detrimento das outras faladas no território. Em Bangladesh, por exemplo, o bengali – que havia adquirido importância simbólica na guerra de independência em relação ao Paquistão – passou a ser a língua (portanto, o sistema de escrita) oficial na década de 1970, prejudicando a transmissão de outros sistemas de escrita.

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