Federação dos Professores do Estado de São Paulo, 18 de abril de 2024

3 de março de 2023

03/03 – Escolas de SP não podem mais acessar redes sociais, Santos ensina Libras no infantil, revista Time elege nossa ministra Anielle Franco como uma das 12 mulheres do ano. E mais: Nóvoa quer estudantes fora da sala de aula

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Governo de SP bloqueia redes sociais em escolas estaduais O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) bloqueou o uso de redes sociais e streamings nas escolas estaduais de São Paulo. A restrição ocorre no momento em que as disciplinas preveem exatamente o uso dessas tecnologias em sala de aula com os alunos.

Para os professores, a restrição, imposta pelo secretário de Educação, Renato Feder, prejudica o trabalho em sala de aula já que o próprio currículo paulista (documento que orienta o que deve ser ensinado nas escolas) prevê, em diversas disciplinas, a discussão e atividades com o uso de redes sociais que fazem parte do cotidiano dos estudantes. Valor Econômico 02/03  http://glo.bo/3J9KNJx

 

Extra Classe: ‘A desigualdade da educação superior e os cursos de medicina privados’ – ‘A nova gestão do MEC poderia, diante de tal realidade injusta, ampliar para 50% a parcela mínima de estudantes bolsistas nos cursos de medicina das instituições privadas, semelhante ao que ocorre nas cotas das universidades federais. Essa é uma iniciativa simples e sustentável, bem como fundamental para o acesso nesses cursos de jovens com dificuldades impostas pela origem social, com carências e desvantagens desde o nascimento e que não possuem herança patrimonial. Isso ajudaria a reduzir a iniquidade da educação superior brasileira que, como sistema, muitas vezes ainda produz e reproduz uma das maiores desigualdades sociais do mundo’. Por Julio Bertolin em Extra Classe 02/03   https://bit.ly/3SJ8dZi

 

Santos inclui Libras no ensino regular Língua Brasileira de Sinais passa a ser disciplina fixa para todos os alunos de 1º e 2º anos das escolas municipais. Currículo foi validado pela Congregação Santista de Surdos. Estadão 02/03  https://bit.ly/3y5FMvc

 

Prouni: inscrições do primeiro semestre terminam nesta sexta-feira Terminam hoje (3) as inscrições do Programa Universidade para Todos (Prouni) para o primeiro semestre deste ano. O prazo começou na última terça-feira (28) e os estudantes interessados devem acessar a página do Prouni no MEC (aqui).

O resultado da primeira chamada sai no dia 7 de março e as matrículas, com a comprovação das informações da inscrição, deverão ser realizadas entre 7 e 16 de março. Já o resultado da segunda chamada será divulgado em 21 de março, com matrículas entre 21 e 30 de março. Agência Brasil 02/03  https://bit.ly/3J9BY2p

 

 

Anielle Franco é eleita uma das Mulheres do Ano da revista Time – A ministra da Igualdade Racial Anielle Franco foi eleita nesta quinta-feira (2) uma das 12 Mulheres do Ano de 2023 da revista americana Time. Anielle é a única brasileira em uma lista que também tem nomes como a atriz americana Cate Blanchett e da ativista climática paquistanesa Ayisha Siddiqa.

Além de ministra, Anielle é professora de inglês, jogadora de vôlei e irmã da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada ao lado do motorista Anderson Gomes em 14 de março de 2018 – crime que até hoje não foi elucidado. O perfil publicado pela revista americana destaca que “a ministra da Igualdade Racial do Brasil nunca planejou entrar na política. Então sua irmã foi assassinada”

A lista completa, no site da revista Time, está aqui. Nexo02/03  https://bit.ly/3YcQuKV

 

 

Deputados aprovam projeto que cria Programa Crédito da Mulher nos bancos oficiais – No mínimo 25% dos recursos do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) deverão ser emprestados às microempresas e empresas de pequeno porte controladas e dirigidas por mulheres.

Dentro dessa reserva, percentuais mínimos dos recursos serão destinados às mulheres negras de renda baixa ou com deficiência. A relatora disse que a proposta contribui para reduzir as desigualdades no Brasil, “especialmente quanto a gênero e raça”. Agência Câmara 02/03  https://bit.ly/41AKWgp

 

Cuidado!  Golpe no WhatsApp promete perfume de presente no Dia da Mulher – A [empresa de monitoramento de internet] Kasperksy já identificou golpes no WhatsApp se aproveitando do Dia Internacional da Mulher, comemorado dia 8 de março. Nesta fraude, as vítimas recebem uma mensagem dizendo que ganharam um perfume e serão levadas para diferentes sites, dependendo da região, dispositivo ou momento que o clique é feito.

A fraude começa com o recebimento da mensagem “Homenagem ao Dia da Mulher. Você ganhou um perfume” por WhatsApp – provavelmente vinda de um amigo ou familiar desavisado. Ela contém um link curto que levará a vítima para um site falso, provavelmente de alguma marca de perfurmaria. TIinside 02/03  https://bit.ly/3Z94gj7

 

Confederação relança campanha ’Lugar de mulher é mudando o mundo’  – No mês do Dia Internacional da Mulher, celebrado no próximo dia 8, redes da Confederação serão ocupadas com personalidades marcantes na história da luta pelos direitos das mulheres. Contee  01/03  https://bit.ly/3L0Trey

 


 

TRABALHO

Reforma Sindical: o que está em debate no Congresso – Após alguns 6 anos de trevas, o debate está reaberto, e se faz necessário fazê-lo com cautela e unidade das entidades em torno de modelo que promova a paz social, a distribuição de renda e a qualidade no mercado de trabalho que está em constante alteração por conta das mudanças tecnológicas nos meios de produção e na oferta de serviços. Diap 02/03  https://bit.ly/41IzsYk

 

SEU BOLSO

Banco Central libera compras pelo WhatsApp – Dois anos após liberar as transferências entre pessoas por meio do WhatsApp, o Banco Central (BC) autorizou os pagamentos de pessoas para lojistas (P2M) por meio do aplicativo. A expectativa do mercado é que a função entre em funcionamento em abril e alavanque não só as transações comerciais por meio do aplicativo, mas as próprias transferências entre pessoas físicas, que nunca decolaram diante da forte concorrência do Pix.

Com a medida, será possível pagar pela compra de um produto ou serviço por meio do WhatsApp, serviço de mensageria da Meta, dona do Facebook. Valor Econômico 02/03  http://glo.bo/3J96uJA

 

 

“Temos que sair da sala de aula”, defende António Nóvoa, referência global em educação
Gazeta Zero Hora
https://bit.ly/3ZdFkHc

Reitor honorário da Universidade de Lisboa e ex-embaixador da Unesco prega mudança radical envolvendo a estrutura dos espaços de ensino

Doutor em Ciências da Educação e História, doutor honoris causa em instituições de Ensino Superior de diferentes partes do mundo, reitor honorário da Universidade de Lisboa ou embaixador da Unesco entre 2018 e 2021 – nenhum desses títulos é tão importante para António Nóvoa como o de professor.

O português de 68 anos, que é referência internacional em educação, esteve em Porto Alegre em fevereiro para dar uma palestra sobre o papel da escola no ensino do futuro, tema de que trata também no seu recém-publicado livro Escolas e Professores: Proteger, Transformar, Valorizar (Editora SEC/IAT, 116 páginas, gratuito e online). Em entrevista a GZH, Nóvoa defende que o lugar dos alunos não é mais em sala de aula: a escola deve passar por uma metamorfose que envolve a criação de novos ambientes educativos, que, aí sim, permitam que os estudantes foquem em seus trabalhos.

Qual o papel da escola na educação do futuro?

Nos últimos três, quatro anos, fui embaixador de Portugal da Unesco e estive ligado à redação do seu último relatório sobre os futuros da educação, no plural. Estive também ligado à cúpula da ONU, em setembro de 2022, sobre a transformação da educação. Vivemos, hoje, a maior transformação de que se há memória na história da educação e da escola. Não há memória de nenhuma transformação tão profunda como esta, por causa da pandemia, sim, mas os problemas já estavam aqui antes. A escola, que é uma instituição extraordinária – lembro-me sempre da frase do Darcy Ribeiro, quando ele dizia que “a escola pública é maior invenção do mundo” –, chega ao século 21 precisando ser repensada. O que isso quer dizer? Fundamentalmente, que nós vivemos ainda no modelo escolar da sala de aula, das carteiras alinhadas, da disciplina de uma hora, da lição do professor. Temos uma estrutura escolar que já não faz sentido, e que hoje precisa passar por um processo. Fui buscar no filósofo francês Edgar Morin o conceito de metamorfose da escola. Metamorfose quer dizer transformar a forma da escola, a maneira como nós a organizamos.

Vivemos, hoje, a maior transformação de que se há memória na história da educação e da escola. A escola, que é uma instituição extraordinária, chega ao século 21 precisando ser repensada.”

Reorganizar de que modo?

Tenho dois exemplos mais fortes para dar. Primeiro, precisamos de novos ambientes educativos. Temos que sair da sala de aula. O ambiente da sala de aula está preparado para dar aulas, para o professor dar a sua lição. Os novos ambientes educativos têm que ser mais abertos, mais diversos, com trabalhos de grupo, trabalhos individuais, onde acontecem coisas muito diversas no mesmo espaço. Para isso, precisamos repensar os ambientes educativos.

É uma questão de arquitetura?

É. Na verdade, foi arquitetura que inventou essa escola, no século 19. Mas é muito mais do que isso. É uma questão de ocupação do espaço, de pedagogia, de trabalho do professor, de trabalho colaborativo entre professores. Hoje, isso já existe em todos os lugares do mundo. No Brasil, na China, na Índia, na Europa, milhares e milhares de escolas e professores já trabalham em novos ambientes educativos. Qual é o problema? É que nós conhecemos mal isso. Já se faz muita coisa, mas nós ainda não fomos capazes de elencar, nomear, estudar e compartilhar esses milhares, milhões de coisas extraordinárias que já existem no mundo. Se não mudarmos o ambiente educativo, nós, dentro da sala de aula, faremos aquilo para o qual a sala de aula foi preparada. “Ah, queremos que os alunos sejam criativos, que sejam ativos, que comuniquem, que façam pesquisa.” A sala de aula não está preparada para isso. O segundo exemplo, que, para mim, é muito importante, é a ideia do trabalho. Estou brincando, mas serve como provocação: nós não queremos que o professor trabalhe. Nós queremos que o aluno trabalhe. E a sala de aula é feita para o professor trabalhar, planejar e dar a sua aula, enquanto o aluno a recebe. O que nós queremos é que o aluno trabalhe. Que o aluno entre de manhã na escola e saia à tarde e esteja sempre fazendo estudos, pesquisas, trabalhos em grupo, criando coisas, escrevendo jornais, cartas, lendo, preparando algum projeto, e que o professor seja aquele que, de algum modo, organiza o trabalho dos alunos, supervisiona, acompanha, avalia, apoia. Mas nada substitui o trabalho dos alunos. E o que nós precisamos instaurar nesse novo ambiente educativo é uma relação dos alunos com o trabalho, porque é a única maneira de os mantermos motivados, interessados, de termos uma pedagogia e uma educação inclusivas. A sala de aula é, por definição, um ambiente excludente. Se queremos uma pedagogia inclusiva, temos que expô-los a uma situação de trabalho.

Estou brincando, mas serve como provocação: nós não queremos que o professor trabalhe. Nós queremos que o aluno trabalhe. E a sala de aula é feita para o professor trabalhar, planejar e dar a sua aula, enquanto o aluno a recebe.

Que tipos de ambientes são esses?

Há milhares. Eu não quero dizer milhões para não exagerar. A Unesco fez três grandes relatórios sobre educação. O primeiro foi em 1972, sobre “Aprender a ser”, o segundo foi um relatório de 1996 sobre “Educação: um tesouro a descobrir” e o terceiro nós publicamos no ano passado, que se chama “Reimaginar juntos os nossos futuros: um novo contrato social da educação”. Quando fizemos esse relatório, nós consultamos, ao longo de três anos, cerca de 1 milhão de pessoas. Fizemos duas perguntas: como vai ser o futuro da educação e o que vocês estão fazendo agora. Na pergunta sobre como vai ser o futuro da educação, recebemos respostas sem nenhum interesse. Banalidades. Mas, quando perguntavam às pessoas “o que vocês estão fazendo agora nas suas escolas?”, vieram respostas extraordinárias, desde em países pobres da África, por professores de comunidades paupérrimas, nos lugares mais diversos do mundo. Nós entramos nessas escolas e o que vemos são os alunos trabalhando. Entramos num grande espaço e vemos num canto três ou quatro alunos desenvolvendo um projeto qualquer artístico, no outro canto dois ou três alunos estudando matemática, no outro um aluno na frente de um computador fazendo algum projeto. Parece que entramos em um laboratório de pesquisa científica. Os pesquisadores estão trabalhando, cada um no seu posto, alguns trabalhando uns com os outros, mas há uma sensação de que ali há uma relação de estudo, de trabalho, de pesquisa. São ambientes muito diversos. Às vezes são ambientes mais internos à escola, como bibliotecas, espaços mais abertos, de recreio, salas de estudo, outras vezes são ambientes mais ligados às comunidades, com uma ligação com o que está fora da escola, mas todos eles se caracterizam pela mesma realidade: os alunos estão ali fazendo tarefas, estudando, trabalhando, desenhando, construindo projetos, fazendo alguma coisa, e isso eu acho que é a marca da pedagogia. Aliás, é muito curioso. Nós falamos muito da Escola Nova, conceito que tem cem anos, mas o primeiro conceito desse movimento foi Escola do Trabalho, que vinha de um pedagogo alemão chamado Georg Kerschensteiner, que foi muito influente nesse movimento. Depois, tiveram medo de que “trabalho” fosse confundido com o trabalho manual. Mas a Escola do Trabalho é onde o aluno trabalha. Esse conceito de Escola de Trabalho era muito mais poderoso do que o conceito de Escola Nova, que não diz nada. Essa ideia parece central neste momento de transformação da educação e das escolas.

Na sua experiência junto à Unesco, o senhor conheceu escolas no mundo inteiro. Há muita diferença entre o que se está fazendo em regiões mais ricas e mais pobres?

Do ponto de vista pedagógico, não. É curioso, e uma das coisas que nos surpreenderam na Unesco. Temos uma espécie de monitoramento do que os países e as escolas estavam fazendo em resposta à pandemia. Foi ali que encontramos respostas extraordinárias em países e escolas muito pobres e respostas sem nenhum interesse em países e escolas ricas. É claro que, do ponto de vista das desigualdades, é outra coisa. A pandemia foi trágica nesse sentido, sobretudo para as meninas, especialmente em certas regiões da Ásia e da África em que, por exemplo, muitas meninas entre 11 e 13 anos deixaram de ir à escola e, agora, já não voltam mais. As famílias não deixam. Sempre houve uma resistência à ideia de que, quando a menina começa a despertar um pouco para a sexualidade, ela siga indo à escola. Há um medo. Então, em vez de promover a educação sexual como deveriam, tira-se a menina da escola. E a pandemia foi arrasadora nisso. Há milhões de meninas em todo o mundo que não vão voltar à escola. As desigualdades sociais no mundo são fortíssimas. Mas, do ponto de vista das respostas pedagógicas, o que nós vimos foram coisas extraordinárias. Literalmente em escolas que funcionam sob uma árvore, na África, vieram respostas extraordinárias, inteligentes, de uma lucidez pedagógica enorme.

Um exemplo de mobilização comunitária que faz a diferença na educação – o senhor teria um exemplo?

Há um tema que, para mim, é muito importante, que é a cooperação. Quando se fala em novos ambientes educativos e em trabalho, se fala em cooperação. Para trabalhar, temos que cooperar. Lembro de uma resposta em um país africano muito pobre, em que um município decidiu dar uma pequena bolsa, de uns R$ 10 por mês, a alunos de 11 e 12 anos, para ajudar outros de sete e oito anos na sua escolaridade. E isso mudou tudo. É impressionante como mudou a vida daquela aldeia. Os R$ 10 que eram dados a esses meninos eram fundamentais para a vida da família, mas a mudança se deu porque os alunos de sete e oito anos passaram a aprender coisas que eles não aprendiam com o professor. É uma política pública muito simples, que não custou praticamente nada e que mudou a vida naquela aldeia. Houve uma grande diversidade de respostas pedagógicas. Mas, quando falo nos novos ambientes educativos e no trabalho, é porque a sensação que tenho é que em todas as escolas há dois denominadores comuns: novos ambientes educativos e a instauração de uma nova relação com o trabalho. Umas vão mais pelo currículo, outras, pelas artes, outras, pela ciência, outras, pela relação com famílias e comunidades, outras, pela tecnologia, mas em todas elas esses dois pontos são comuns.

Muito se critica, quando se fala nessas transformações, a formação dos professores, mas o senhor diz que há também muitos bons exemplos pelo mundo. A formação tem passado pelas mudanças de que precisa?

Não. A formação dos professores está numa fase muito difícil, em todo o mundo. É claro que as situações são diferentes. É claro que a situação no Brasil é pior do que em Portugal do ponto de vista salarial, do ponto de vista estrutural. Mas o problema de fundo é o mesmo. Nós temos que ter a consciência hoje de que, ainda que haja uma grande desigualdade entre a Finlândia, a China, o Brasil, Burundi etc, o problema de fundo é igual em todo o mundo. E um dos problemas sobre os professores é uma espécie de desprestígio, um mal-estar da profissão. Em Portugal, os professores são relativamente bem remunerados, e, ainda assim, estão em greve há dois meses, em uma situação de mal-estar como nunca estiveram antes.

A educação e a escola pública nasceram para combater a desigualdade. Dizia-se muito que a educação é como um elevador social. No dia em que a educação deixar de ser isso, ela não servirá para nada.”

Pensando na educação em países desiguais, como o Brasil: o combate à desigualdade é um papel da educação ou é de outras instâncias de políticas públicas?

A educação e a escola pública nasceram para combater a desigualdade. Dizia-se muito que a educação é como um elevador social. No dia em que a educação deixar de ser isso, ela não servirá para nada. A educação é sempre um processo que, nós acreditamos, pode contribuir para combater as desigualdades. Qual é o problema? Em números redondos, segundo cálculos da Unesco de antes da pandemia, haveria no mundo cerca de 1,6 bilhão de alunos de até 15 anos em escolas de todo o mundo. A humanidade, hoje, tem 7 bilhões de pessoas, mais ou menos. Segundo a Unesco, 800 milhões saíam das escolas aos 15 anos sem terem aprendido nada. Portanto, a escola não só não contribuiu para combater as desigualdades como, pior ainda, as acentuou. A gente pensa e diz, como é possível as crianças ficarem 10 anos numa escola e a metade delas sair de lá sem aprender nada? Havia um colega nosso, acho que era o Bernard Charlot, que dizia: “Há muitas crianças que passaram muitos anos na escola sem nunca lá terem entrado de verdade”. Nunca entraram numa cultura escolar. Por isso que a ideia do trabalho é tão importante. Ora, escolas desse tipo acentuam as desigualdades, e isso é absolutamente dramático, porque a escola tem um papel decisivo nesse combate às desigualdades e temos de construir uma escola que tenha essa capacidade e essa ambição. No dia em que a escola perder isso, para que a gente vai querer escola? Porque a gente quer a escola justamente para dar oportunidades às pessoas que elas nunca teriam se não tivessem estudado. A educação é uma viagem. É uma viagem para outros lugares, outras paragens, outras culturas, outras possibilidades. E isso é algo que tem que ser matricial. Em um país como o Brasil, isso é central, e por isso é que falar sobre educação pública de qualidade, em que todos os meninos e as meninas aprendam, é absolutamente central. Poderíamos ter falado sobre jogos, recreio, questões emocionais, e tudo isso é muito importante na escola, mas a escola não é feita para isso. A escola é feita para trabalhar. Portanto, o jogo, a dimensão emocional são instrumentos para conseguirmos trazer a criança para a dinâmica do trabalho e da aprendizagem. Há um verbo que, para nós, é muito importante: cuidar. Mas isso não significa dividir uma hora para ensinar matemática e outra para cuidar dos meninos. O que me interessa é fazer duas horas em que a matemática e o cuidado estão juntos, em que eu cuido dos meninos através do processo de aprendizagem da matemática. E obviamente há países em que essa dinâmica de combate à desigualdade é ainda mais necessária, e o caso do Brasil é um caso típico de uma escola e uma educação públicas que ainda não cumpriram promessas feitas no século 20.

Não cumpriram por quê? Por falta de investimento financeiro?

O investimento financeiro é importante, mas não tudo. Eu às vezes sinto o Brasil, em muitos casos, travado. Senti isso nas universidades nos últimos anos. Sei que a situação política era horrível, a situação financeira era difícil, mas eu dizia muitas vezes: ok, isso é verdade. Só que alguma coisa os impede de mudar o currículo da formação dos professores? Alguma coisa os impede de dar aulas de maneira diferente? Não há nada que impeça. O Complexo de Formação de Professores do Rio de Janeiro foi feito praticamente sem dinheiro. Não estou desvalorizando a importância dos investimentos, mas o problema vai além disso.

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